Pensamento Teologico e Vida Religiosa - Doutrina da Trindade








Universidade Montemorelos
Faculdade Adventista de Teologia - Extensão Angola



ESTUDO SOBRE TRINDADE

Trabalho Apresentado em Cumprimento Parcial dos
Requisitos da Disciplina de
Pensamento Teológico e Vida Religiosa

Por:
Calueto André Quissanga
Curso de Licenciatura em Teologia
2˚ Ano

Huambo, Março 2020


TRABALHO INVESTIGATIVO





FACULDADE ADVENTISTA DE TEOLOGIA DE ANGOLA
UNIVERSIDADE MONTEMORELOS




Título: Trindade, Pensamentos Teológicos desenvolvidos em Torno da Doutrina de Deus.



Resumo

A doutrina da Trindade consiste na afirmação de que há um Deus em três pessoas. Este trabalho oferece uma abordagem não exaustiva ao reunir diferentes pensamentos sobre assunto da Trindade. Ao tratar da questão da unidade e da diversidade em Deus, este trabalho mostra que a compreensão do assunto tem sido progressivo entre os Adventistas do Sétimo Dia. Para se defender esse trabalho, primeiramente, examina-se os diferentes argumentos biblico/teológicos da doutrina da Trindade, com o objetivo de mostrar como a unidade da essência e a diversidade das pessoas em Deus têm sido entendidas, depois faz-se uma análise sintética do desenvolvimento da compreensão adventista sobre o assunto. Conclui-se o trabalho, enfim, com algumas declarações de Ellen White e a declaração de crenças Adventista sobre a Trindade.



Introdução

André da Silva (2014), A doutrina da Trindade pode ser definida basicamente com duas afirmações: primeira, que há um só Deus; segunda, que em Deus há três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – cada uma das quais é Deus.[1] Duas verdades que transparecem claramente a partir dessa definição são a unidade e a diversidade em Deus. Deus é um e Deus é três.
O método utilizado para este trabalho foi a pesquisa bibliográfica, especialmente em livros e artigos acadêmicos especializados no assunto, de autores de referência como Marcos Terreros, Agostinho, Calvino, Raol Dederen, Kwabena Donkor, Tratado de Teologia ASD.
Neste trabalho, examina-se os diferentes pensamentos biblico/teológicos da doutrina da Trindade, com o objetivo de mostrar como a unidade da essência e a diversidade das pessoas em Deus têm sido entendidas, depois faz-se uma análise sintética do desenvolvimento da compreensão adventista sobre o assunto. Conclui-se o trabalho, enfim, com as declarações de Ellen White e a declaração de crenças Adventista sobre a Trindade.



Diferentes Pensamentos Bíblico/teológicos da Doutrina da Trindade


Fernando L. Canale (2012), “Visto que Deus Se relaciona com tudo e tudo com Ele se relaciona, a doutrina de Deus é fundamental para a teologia cristã. E ela que determina a forma como os teólogos entendem e formulam todo o corpits de crenças cristãs.”[2]
Visto que a filosofia humana precisa se sujeitar à Bíblia, e visto que a filosofia divina já se acha disponível nas Escrituras, nossa compreensão de Deus deve estar isenta de especulações humanas. O que podemos saber sobre Deus deve ser revelado a partir das próprias Escrituras.
A revelação neotestamentária sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo inspirou, desde o início, amplo leque de reflexão teológica que ainda mantém sua intensidade original.
Agostinho (354 - 430) levou a doutrina da Trindade à sua expressão teológica clássica em seu livro Da Santa Trindade. Diferentemente dos pais capadócios, Agostinho parte da concepção da unicidade de Deus, e daí avança para Sua triplicidade. Ele concebe a unicidade de Deus se baseando na consubstancialidade (identidade de substância) das pessoas. A simples e atemporal essência de Deus constituí não apenas o fundamento decisivo para Sua unicidade ontológica, mas também coloca o Pai como o nascedouro da Trindade, tornandoSe assim a fonte da qual se derivam tanto as pessoas como a unidade delas.[3]
Martinho Lutero (1483-1546), A teologia de Deus elaborada por Lutero
se baseia na revelação divina em Jesus Cristo. A partir desse ponto de partida básico, o reformador alemão estabelece a distinção entre o Deus revelado e o Deus oculto.
João Calvino (1509-1564), Calvino abordou a teologia de maneira sistemática, seguindo a tradição de Agostinho. Para ele, Deus é atemporal, simples, impassível, imutável e auto existente (Institutas, 3.21.5; 1.2.2; 1.13.2; 1.17.13; 1.18.3; 3.2.6).
Calvino reafirma a posição agostiniana clássica sobre a Trindade (ibid,, 1,13).[4]
Karl Barth (1886-1968), Segundo Barth, Deus é uma essência
única, simples e atemporal, cujo conteúdo é senhorio ou soberania. Sua personalidade
é una e idêntica com Sua essência. O teó­logo suíço consegue, contudo, crer num Deus
trinitárío. Em suma, a concepção barthiana sobre Deus e a Trindade é muito parecida com a de Aquino.[5]
Heresias Trinitarianas: Do segundo ao quarto século da era cristã
formularam-se algumas conceitualizações malsucedidas do ensino bíblico a respeito
da Divindade. O monarquianismo dinâmico, o monarquianismo modalista e o arianismo
representaram esforços para compreender a Trindade a partir do pano de fundo intelectual provido pelo neoplatonismo na tradição de Justino Mártir e Orígenes.[6]
A doutrina bíblica de Deus afeta pelo menos três domínios principais do pensamento cristão: as áreas metodológica, soteriológica e eclesiológica, além de permear todo o campo da teologia cristã. Influencia nossa interpreta­ção da Escritura, determinando o modo como examinamos algumas matérias fundamentais que têm papel decisivo em nosso processo de cognição.
Concepção Adventista[7]

Os adventistas do sétimo día se limitaram a fazer declarações dogmáticas e
teológicas, mantendo-se afastados do desenvolvimento sistemático da doutrina de Deus
e da Trindade. A maioria das declarações teológicas foi produzida dentro do contexto de
estudos sobre cristologia, expiação e reden­ção. De forma clara, a ênfase adventista na
Escritura como única fonte de informação para teologizar imprimiu renovado e revolucionário impulso à reflexão teológica sobre Deus, Sistematicamente desconfiados e crí­ticos das posturas teológicas tradicionais, os adventistas tomaram a decisão de estabelecer doutrinas somente com base nas Escrituras.
Entre os adventistas, as declarações teológicas sobre a doutrina da Trindade evoluíram basicamente a partir de três tipos: as que envolvem subordinacionismo temporal, as que rejeitam a interpretação clássica da doutrina da Trindade e as que ratificam a Trindade como concepção bíblica do Deus cristão.
1. Subordinacionismo Temporal: Já em 1854, J. M. Stephenson, escrevendo sobre a expiação, argumentava claramente a favor do subordinacionismo, segundo o qual Cristo tería sido temporalmente gerado pelo Pai, isto é, procriado pelo Pai (Stephenson, 126). Pelo fato de ter sido gerado, Cristo era divino, mas não eterno (ibid., 128). Stephenson aceitava uma cristologia semiariana (cf. “Christology" em SDA Encyclopedia, 10:352-354). Outros pioneiros que endossaram pontos de vista semelhantes foram Tiago White (1821- 1881), José Bates (1792-1872), Uriah Smith (1832-1903), J. H. Waggoner (1820-1889), E. J. Waggoner (1855-1916) e W. W. Prescott (1855-1944).
2. Rejeição da Doutrina Clássica: O fato de alguns autores adventistas do
sétimo dia rejeitarem a interpretação teoló­gica clássica da doutrina da Trindade não
implica necessariamente uma rejeição da revelação bíblica sobre a Trindade, visto que
o que eles rejeitavam era a interpretação, e não os fatos em si. A doutrina clássica
é frequentemente rejeitada com base em argumentos muito frágeis, como, por exemplo, que a palavra “Trindade" não consta da Bíblia ou que a doutrina é contrária à inteligência e à razão que Deus nos deu.
As vezes, a doutrina da Trindade é rejeitada com base em argumentos incorretos, como, por exemplo, aquele que ensina que o Espírito Santo não é pessoa, mas uma influência impessoal. Existem, porém, razões teológicas mais complexas para se rejeitar a doutrina clássica na Trindade. Foi assim que alguns pioneiros adventistas entenderam que a interpretação clássica da Trindade imanente era incompatível com a Trindade econômica conforme apresentada na Escritura (Frisbie, RH, 12/3/1857). Outros entendiam que, se tal interpretação fosse aceita como correta, os ensinos bíblicos sobre os atos históricos da Trindade precisariam ser radicalmente reinterpretados, notadamente o ensino sobre a realidade divina do sacrifício expiatório de Cristo na cruz. Tiago White percebeu que a ênfase posta pela doutrina clássica da Trindade sobre a unicidade da Trindade imanente acarretava falta de clareza no tocante às distinções entre as pessoas divinas (Day-Star, 24/1/1846).
3 - Confirmação da Trindade Bíblica: A despeito do subordinacionísmo temporal inicial, da tendência para conceber o Espírito Santo em termos impessoais (Smith,
10) e de uma forte postura crítica contra a doutrina clássica da Trindade, a maior parte
dos pensadores adventistas cria no ensino biblícamente revelado de que o Deus cristão não está restrito à pessoa do Pai celestial, senão que também inclui o Jesus Cristo histórico e o Espírito Santo como pessoas divinas.
A verdade da plena divindade de Cristo foi especialmente enfatizada por E. J. Waggoner, em 1888. Em 1892, a doutrina trínitária foi explicitamente apresentada, quando a Pacific Press reimprimiu o artigo de Samuel T. Spear sobre a Trindade. Visto que Spear não era adventista, não surpreende encontrar em seu artigo forte ênfase no Deouno da tradição e um remanescente de subordinacionismo ontológico acerca da pessoa do Filho.
Com níveis cada vez mais precisos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia ratificou a doutrina da Trindade, primeiramente na declara­ção “não oficial" de 1872, redigida por Uriah Smith, e nas declarações de crença oficiais de 1931 e 1980.A declaração feita por Ellen White em 1898 de que “em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada" (DTN, 530) constituiu o ponto de partida tanto para a ratificação da Trindade como um ensino bíblico autêntico (Dederen, 5, 12) como para uma forma distinta de compreendê-la como doutrina.
A declaração de Ellen White não só descartava o erro básico incluído na primitiva cristologia adventista e na doutrina de Deus, a saber, o subordinacionísmo temporal
do Cristo preexistente, mas também sinalizava para o necessário afastamento da doutrina clássica (Dederen, 13), que envolvia a eterna e ontológica subordinação do Filho. Na natureza do Deus eterno não há nenhuma geração eterna, e, por conseguinte,
nenhuma processão eterna do Espírito.
O adventismo também concebe a ideia de pessoas em seu sentido bíblico, como três centros individuais de inteligência e ação (Dederen, 15). Por último, tendo partido do conceito filosófico de Deus como atemporal e tendo abra­çado o conceito histórico de Deus conforme apresentado na Bíblia, os adventistas consideram a relação entre a Trindade imanente e a econômica como uma relação de identidade e não de correspondência.
4. Tendências Contemporâneas: De modo geral, os adventistas contemporâneos continuam a centralizar seus interesses teológicos em questões soteriológicas
e escatológicas. Foi por isso que a discussão técnica acerca da doutrina de Deus não
entrou na ordem do dia. Não obstante, ao lidar com outras questões teológicas  interconexas, tais como expiação, justificação, santificação e escatologia, percebe-se em
alguns autores crescente propensão para se colocar mais ênfase no amor, na bondade e misericórdia de Deus do que em Sua ira e justiça (por exemplo, Provonsha, 49), Tem
havido localizada discussão favorável em prol da concepção aberta de Deus (Ríce, 11-58;
ver IX.E.5).
Declaração de Ellen G. White

“Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste; em nome destes três grandes poderes — o Pai, o Filho e o Espírito Santo - os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo” (Ev, 615).
Crença Adventista Sobre a Trindade

Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-revelação. Para sempre é digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação.[8]



Bibliografia

CANALE, Fernando L. – Tratado Adventista do Sétimo Dia, Tatuí, São Paulo, 2012.
SMITH, Uriah. Looking Unto Jesus. Battle Creek: Review and Herald, 1897.
Spear, Samuel T. "The Bible Doctrine of the Trinity”. Nerv York Independent, 14
de novembro de 1889. Reimpresso em M.
STEPHENSON, J. M. The Atonement. Rochester: Advent Review office, 1854.
Veloso, Mario.
Seventh-day Adveniists Answer Questions on Doctrine: An Explanation of Certain
Major Aspects of Seventh-Day Adventist Belief. Washington: Review and Herald,
1957.


[1] Cf. LETHAM, Robert. The Holy Trinity: in Scripture, history, theology and worship. Phillipsburg: P&R Publishing, 2004, p.382.
[2] Canale, Fernando L. – Tratado Adventista do Sétimo Dia, Tatuí, São Paulo, 2012, p. 146
[3] Arminius, Jacobus. Writings. 3 vols. Grand Augustine. The Trinity. Washington: Catholic
Rapids: Baker, 1956.
[4] Canale, Fernando L. – Tratado Adventista do Sétimo Dia, Tatuí, São Paulo, 2012, p. 164
[5] Barth, Karl. Church Dogmatics. 4 vols. Trad. G. T. Thompson. Edinburgh: T. & T. Clark, 1936-1962.
[6] Canale, Fernando L. – Tratado Adventista do Sétimo Dia, Tatuí, São Paulo, 2012, p. 161
[7] Resumo. Tratado Adventista de Teologia Cap. 4, 2012, Casa Publicadora Brasileira
[8] Nisto Cremos – ASD 2013

Comentários